Jogador Número 1 - Bando de Quadrados
Jogador Número 1
Review - Filme

Jogador Número 1

TATO CAMPOS - 09.04.2018 15:55
    
6 min. de leitura

Jogador N°1 é um filme que foi muito esperado por todos que leram o livro e por todos que não leram também. Afinal de contas, a trama que gira em torno da caça ao tesouro, no caso, tesouros... tem uma ambientação cinematográfica, já no livro, totalmente baseada e inspirada nas aventuras que víamos da década de 1980, como nos filmes, tipo Indiana Jones ou Os Goonies, com charadas, puzzles e quebra-cabeças para serem resolvidos e assim, passarem para um outro nível ou acharem uma relíquia.

 

Porém, como tudo na vida, nós sabemos que a aventura para esse filme ser feito apresentaria alguns problemas óbvios — Como fazer OASIS real? Esse foi, facilmente, descartado, pois já temos tecnologia em computação gráfica para criar o OASIS, um mundo de realidade virtual onde as pessoas entram para fugir dos problemas do mundo real e ser quem quiserem e fazer o que quiserem. O segundo problema, e sim, muito mais preocupante: como conseguir todos os direitos de uso para toneladas de referências dos filmes, séries, desenhos, jogos, músicas e outros elementos da cultura pop listados no livro?

 

A direção e produção de Steven Spielberg, com certeza, foi um grande triunfo para o filme. Além de dar aos fãs aquele gostinho aventura centrada em personagens bem construídos e bem adaptados, Spielberg domina os efeitos visuais como ninguém, o fato do filme ter seu nome foi de grande ajuda a liberação de direitos das referências achadas no filme. Ainda assim, muita coisa ficou de fora, Spielberg decidiu evitar referências a seus próprios filmes (provavelmente para evitar os comentários que ele seria egocêntrico) e Star Wars.

 

Nada que prejudique muito o filme (Mesmo eu imaginando que seria muito bom ter visto as referências de Star Wars). Durante todo o filme, inúmeras aparições farão os nerds irem ao delírio. Algumas são importantes para o desenrolar da história, como a do robô de Gigante de Ferro; outras, são claramente fanservice, como a de Chucky, de Brinquedo Assassino. Temos ainda Battle Toads, Overwatch, Tartarugas Ninja, Akira, De Volta Para o Futuro e MUITO MAIS!!!

 

Quem é muito fã do livro, pode ter uma pequena chance de reclamar das diferenças no enredo. Mas, resumidamente continua a mesma coisa que o livro, o centro de tudo é que após sua morte, o criador do OASIS, James Halliday, envia uma mensagem a todos os usuários, é quando lança um desafio: se alguém encontrar o Easter Egg, que é um item escondido no universo virtual (em qualquer lugar do universo, que por sinal, conta com vários planetas e setores), herdaria sua fortuna de um trilhão de dólares e o total controle sobre sua empresa. Isso dá início a uma grande caçada, da qual participam aqueles que buscam apenas riquezas e poder e os que querem impedir que o OASIS caia nas mãos de Nolan Sorrento, presidente da Innovative Online Industries (IOI), empresa que deseja transformar a plataforma em uma forma de comércio e ser uma fábrica de lucros para ele mesmo.

 

Falando um pouco sobre o protagonista Wade Watts, ele se mantém fiel ao livro, em quase tudo... Ele é órfão, morador de uma “pilha” (tipo a favela do futuro, vários motorhomes empilhados), e passa a maior parte do dia no OASIS, controlando seu avatar, Parzival, ao lado de seu melhor amigo, o avatar Aech. Wade é um geek fascinado com tudo o que diz respeito a Halliday e à caça ao Easter Egg. O que da ao personagem uma identificação com quem assiste o filme, pois ele é fã, tanto do criador do OASIS, como das coisas que o criador gostava, dos filmes, jogos, series, isso ajuda muito o filme a ficar agradável, e também, ajuda muito quando somos apresentados aos outros avatares, inclusive quando vemos a sua relação com a avatar Art3mis, uma grande peça para a trama, pois é por ela que Wade começa a descobrir mais a respeito do caráter e das intenções de Sorrento.

 

Uma coisa que não posso deixar de falar e que pode, ou não, chatear os fãs do livro é o fato de as missões para conquistar as três chaves que conduzem ao Easter Egg terem sido alteradas drasticamente. Aqui, podemos pensar que tivemos a questão dos direitos — pois a não liberação impede o uso das obras originais da história —, porém temos que pensar no ponto da abrangência do filme, que é bem ampla e um filme com as quests originais seria centrado muito em apenas um nicho das pessoas que assistiriam. Os jogos e filmes que estão listados e fazem parte das missões do livro podem ser conhecidos pelos nerds e por quem foi criança nos anos 80, mas Spielberg e os roteiristas possivelmente optaram por exemplos mais familiares ao público em geral, o que define a cultura POP. Temos que pensar também que é um filme longa metragem, ou seja, algo que gira em torno de duas horas de duração, então imaginar uma cena onde o personagem joga um jogo até zerá-lo ou assiste um filme e precisamos prestar atenção em um filme dentro de um filme, não é muito aceitável tecnicamente, por isso vemos a escolha por versões dos desafios um pouco mais cinematográficas, que literalmente adaptadas.

 

Talvez a diferença que faça mais falta seja a relação do filme com os coadjuvantes, que, infelizmente, perderam um pouco sua importância. Personagens como Aech, por exemplo, sempre traz discussões interessantes a respeito de identidade no livro, mas sua participação no filme acaba sendo um alívio cômico, mesmo que a personagem apresente alguma seriedade e importância grande para a história. Já os avatares Daito e Sho, que vivem uma das passagens mais sombrias no livro, muitas vezes atuam como figurantes. Sei que são decisões executivas e de adaptação de roteiros que tem que ser tomadas, afinal precisa-se haver a adaptação cinematográfica para melhor fluir da trama central do filme.

 

Ao final de tudo, Spielberg entrega um filme muito divertido, como prometido e comentado na internet, é um filme Nerd para Nerds, porém quem não é Nerd e entende todas as referências, pode assistir tranquilamente, que não terá nenhum problema, se puder levar alguém pra explicar, a experiência se tornará épica (hehe). O filme certamente consegue retomar o clima leve e despretensioso de outras obras importantes das décadas de 80 e 90, celebrando-as com justiça. E esse é o espírito do livro. E é um filme que é preciso ver mais de uma vez para perceber todas as referências que existem nele.

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